Escrevo sobre isso hoje porque me preocupam as crianças cheias de rótulos. O exemplo da loucura é apenas uma das possíveis ilustrações, mas os rótulos são muitos.
É muito fácil dizer que alguém é louco ou desequilibrado. Basta que esse alguém faça algo inesperado. Então, aqueles que se incomodam com o inesperado desejam um diagnóstico que possa definir a pessoa "louca" dentro de características que a ciência tenha listado. Mas, de perto ninguém é normal!
Um diagnóstico não define uma pessoa e como é sua vida. Pode até dizer muito, mas não diz tudo. Por exemplo, quando uma pessoa é conhecida como louca, tudo o que ela faz é atribuído à sua loucura:
Se ela caminha longas distâncias descalça, é porque é louca;
Se ela é boa em artes, é porque "os loucos costumam ter dom pra essas coisas";
Se ela fala alto, é porque precisa abafar as vozes que falam com ela...
Mas quem se der a oportunidade de conhecer de perto, saberá outras coisas, talvez...
...ela andou descalça porque os sapatos estavam machucando, o lugar aonde ia era longe e estava sem dinheiro para o transporte;
...ela é boa em artes porque foi uma das poucas formas em que permitiram que ela se expressasse;
...ela fala alto porque está sendo difícil ser escutada como pessoa.
Não deixe que um diagnóstico feche seus olhos de forma que você deixe de enxergar a pessoa que existe por trás do rótulo.
Indicação de leitura: Os Anjos de Zabine - um ensaio psicoterapêutico sobre a loucura